O Novo Cenário de Governança
O mercado de capitais passa por uma transformação profunda, impulsionada pela tokenização de ativos financeiros. No Liberum Intelligence, reunimos especialistas para discutir como essa inovação afeta a segurança, a governança e a análise de risco em produtos estruturados, especialmente os Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs).
A conversa reuniu Décio Bapptista (Liberum Ratings), João Pirola (AMFi) e Bruno Amadei (CredCapital).
1. Tokenização: Eficiência, Transparência e o Papel Estrutural do Blockchain
Tokenização é o processo de representar digitalmente um valor mobiliário em uma estrutura que permite sua negociação facilitada pela internet. Essa representação possibilita o fracionamento do ativo e seu registro em uma base distribuída, o blockchain.
Diferentemente de bases tradicionais, o blockchain funciona como um livro-razão imutável e auditável, no qual todos os participantes da cadeia — estruturadores, investidores, agentes fiduciários e agências de rating — acessam a mesma informação, ao mesmo tempo e sem divergências.
Essa infraestrutura reduz reconciliações, minimiza erros operacionais e cria um ambiente com mais eficiência e rastreabilidade, pilares essenciais para fundos estruturados.
2. A Verdade Inegociável: O Risco de Crédito Permanece
Apesar dos ganhos de eficiência, um ponto é fundamental: a tokenização não altera o risco de crédito do ativo subjacente.
Se um crédito é arriscado, continuará sendo arriscado — seja representado por uma debênture tradicional ou tokenizada.
Como reforçou Décio Bapptista, “a tecnologia melhora processos, mas não reduz o risco de crédito”.
Ou seja: a tokenização melhora o fluxo de informações, mas não muda a qualidade do devedor, do lastro ou da operação.
3. A Complexidade do Rating na Era Digital
Neste novo ambiente, o rating se torna ainda mais essencial. Ele continua cumprindo seu papel histórico de medir risco de crédito, mas passa a incorporar uma nova camada: a análise da infraestrutura tecnológica por trás dos ativos tokenizados.
Isso inclui:
- – avaliação dos processos operacionais;
- – verificação da lógica dos smart contracts;
- – análise do histórico e da reputação dos atores envolvidos;
- – interpretação crítica dos dados fornecidos pelo blockchain.
Assim, a tokenização aumenta a transparência, mas também a complexidade e a responsabilidade da análise de risco.
É justamente por isso que metodologias sólidas e independentes — como as da Liberum Ratings — tornam-se ainda mais necessárias.
4. Democratização e o Papel de Responsabilidade dos Agentes
A tokenização traz benefícios importantes: inclusão, fracionamento, liquidez e redução de custos de transação.
Investidores que antes não tinham acesso a determinados produtos agora podem participar de forma mais simples.
Mas essa democratização exige responsabilidade proporcional.
A mesma infraestrutura que facilita o acesso pode, se mal utilizada, facilitar casos de má distribuição, inadequação de perfil ou até fraude.
Por isso, o papel das agências de rating e dos demais agentes de mercado é decisivo para:
- avaliar a adequação dos produtos;
- garantir governança;
- proteger o investidor menos sofisticado.
Democratizar não é apenas ampliar acesso, mas assegurar acesso com qualidade, transparência e controle.
Este artigo foi desenvolvido a partir do episódio “13. A tokenização no mercado de capitais” do videocast Liberum Intelligence, onde especialistas discutem as implicações da tokenização para governança, risco e regulação.